quarta-feira, 29 de maio de 2013

 polêmica redução do iodo do sal brasileiro

Em meados do mês de abril, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária determinou a redução do teor de iodo adicionado ao sal no Brasil. Desde que foi implementada na década de 50, a iodação do sal vem sofrendo mudanças, ora para mais, ora para menos, numa busca pela proporção ideal para a saúde das pessoas. O método é usado em todo o mundo para evitar dois grandes problemas de saúde pública: o bócio endêmico, que é o aumento do volume da glândula tireoide, conhecido como “papo” e o cretinismo, o retardo mental de graus variáveis de crianças nascidas de mães que consumiram iodo abaixo das suas necessidades.
A alegação da agência reguladora brasileira é de que algumas pesquisas em andamento vêm revelando que nós brasileiros estamos ingerindo muito iodo e esse consumo excessivo também seria maléfico.  Poderia levar à ocorrência de um maior número de inflamação da tireoide em pessoas susceptíveis, levando ao hipotireoidismo.
Por incrível que possa parecer, não é a concentração de iodo no sal que está alta, mas sim o nosso consumo de sal. O brasileiro ingere em média 10 gramas de sal por dia, ao invés das 5 gramas preconizadas e com ele, muito mais iodo do que precisa. O grande problema é que nas cidades do interior, o brasileiro que come menos comida industrializada, rica em sal, pode novamente sofrer as consequências de uma alimentação pobre em iodo.  
Essa medida da Anvisa expõe nosso flanco. A mais difícil medida de saúde pública, que é a redução do teor de sal dos alimentos industrializados. Assim, ao invés disso, a agência determina a redução do teor de iodo no sal, atestando sua incapacidade, pelo menos por hora, em garantir que a indústria reduza o conteúdo de sal dos alimentos. Trata-se de uma solução paliativa, que põe em risco principalmente gestantes e crianças.
O sal ainda é o principal conservante utilizado pela indústria de alimentos para que seus produtos tenham maior durabilidade nas prateleiras dos supermercados. Dos refrigerantes às bolachas. Das massas aos molhos industrializados. Dos doces às carnes processadas. Nada está livre das altas concentrações de sal. Eis aí um dos maiores desafios do mundo moderno por uma alimentação saudável. Sem falar nos problemas relacionados à tireoide, o consumo excessivo de sal nos alimento industrializados eleva as taxas de hipertensão arterial e doenças cardiovasculares e impõe um alto custo aos governos e à sociedade.
Ao invés de reduzir o teor de iodo no sal, esperávamos da Anvisa medidas mais austeras em relação à redução do teor de sal dos alimentos industrializados. Mas esse não é um problema da nossa agência, pois o mundo todo se encontra exposto aos riscos do excesso de sal e por enquanto as agências e governos estão de joelhos frente ao poder da indústria de alimentos, cujo lucro depende da durabilidade dos alimentos. 

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