Excesso de exercícios
físicos é fator de risco para a saúde do corpo
Síndrome pode afetar músculos e também o sistema
cardiovascular.
'Tem que ter limite nos treinos e no descanso', alerta cardiologista.
'Tem que ter limite nos treinos e no descanso', alerta cardiologista.
Mariana PalmaDo G1, em
São Paulo
Priscilla participou de duas
provas, mas teve que
reduzir o ritmo (Foto: Arquivo pessoal)
reduzir o ritmo (Foto: Arquivo pessoal)
O equilibro é fundamental em diversas situações do dia a dia, inclusive
na prática de atividade física. O excesso de exercícios pode transformar o que
seria um hábito saudável em um grande risco para o corpo, não só para a
musculatura, como também para o sistema cardiovascular.
“O exagero é o que chamamos de síndrome do excesso de treinamento,
quando a pessoa treina sem parar para ter resultados melhores, o que na maioria
das vezes não acontece”, alerta o cardiologista e especialista em medicina do
esporte Nabil
Ghorayebx.
Foi o que aconteceu com Priscilla Nasrallah, de 31 anos. Em novembro de
2012, ela começou a perceber que seu corpo já não estava mais respondendo aos
treinos e decidiu ir ao médico. “Eu nunca tinha competido e, do nada, decidi
que queria ser triatleta. Treinava duas vezes por dia, todos os dias, e buscava
um resultado rápido. Às vezes, achava que estava só com preguiça, mas a verdade
é que meu corpo não estava mais aguentando”, lembra.
De acordo com o médico Nabil Ghorayeb, por causa do excesso de
treinamento, começam a ocorrer mudanças no organismo do paciente. “O corpo
passa a produzir hormônios de uma maneira errada. Além disso, o coração fica
acelerado o tempo todo, mesmo em repouso”, afirma. As consequências começam a
aparecer também no dia a dia e o paciente pode começar a ficar mais irritado,
com insônia e até com a imunidade mais baixa.
“Com a defesa mais baixa, ele começa a ter mais facilidade para pegar
infecções. Outro problema é em relação ao sangue, que pode ficar mais grosso, o
que pode levar a um infarto do miocárdio ou a um derrame cerebral, por exemplo.
Além do risco de arritmia e até parada cardíaca”, ressalta o médico. Fora isso,
o atleta começa a perder rendimento e, por isso, passa a se cobrar cada vez
mais. “É algo inconsciente. Ele faz um tempo ótimo e acha que está mal”,
exemplifica Nabil.
Segundo a psicóloga Leila Cury Tardivo, a vontade de fazer cada vez mais
exercício físico pode ser comparada a uma compulsão. “É uma atitude repetitiva
associada a uma ideia obsessiva de querer ficar forte ou magro. Então a pessoa
“vicia”, o que pode trazer danos também para sua saúde mental”, explica. Leila
esclarece ainda que uma das causas do excesso de exercício pode ser uma
distorção da imagem que a pessoa tem de si mesma. “A pessoa não se vê com o
corpo bonito, então é como se ela tivesse uma ordem na cabeça dizendo para não
parar”, diz a psicóloga.
No caso de Priscilla, essa cobrança e o estresse foram duas grandes
dificuldades. “A orientação médica era para que eu parasse, mas eu não
conseguia. A cabeça influenciava muito e eu ficava me cobrando, pensando que
precisava treinar”, lembra.
Segundo Gustavo Magliocca, médico do esporte que acompanhou o tratamento
de Priscilla, o problema do excesso pode se agravar ainda mais por causa de
maus hábitos alimentares, privação do sono e também erros nas cargas do
exercício.
“Para um organismo não bem controlado, o excesso pode gerar uma fadiga,
que pode ser uma simples dor muscular de 2 horas ou até um quadro que dura 2
semanas”, explica Gustavo. Por causa da diminuição da imunidade, Priscilla
acabou desenvolvendo uma pielonefrite, infecção no trato urinário. “Fiquei
internada na época”, lembra.
Toda pessoa que começa um exercício físico, deve ter uma meta gradual e
progressiva para evitar lesões e outros quadros mais graves"
Gustavo Magliocca, médico do esporte
Para reverter o quadro, o tratamento é “parar tudo”, como explica o
cardiologista Nabil Ghorayeb. “Tem que recomeçar quase do zero. Nesse momento,
é importante ter um educador físico qualificado e também acompanhamento
médico”, recomenda.
Priscilla, que está em processo de recuperação desde dezembro de 2012,
conta que já voltou a se exercitar, mas em um ritmo bem menor. “Quando voltei a
correr, não conseguia. Era um desespero porque estava acostumada a correr 9 km
e não conseguia mais correr nem 3 km”, lembra.
Seja na recuperação da síndrome de excesso de treinamento ou na
atividade física do dia a dia, a dica principal é sempre dar um descanso ao
corpo. “Toda pessoa que começa um exercício físico, deve ter uma meta gradual e
progressiva para evitar lesões e outros quadros mais graves”, alerta o médico
do esporte Gustavo Magliocca. Segundo ele, quanto mais intenso for o treino,
maior deve ser o período de descanso e intervalos.
Priscilla está se recuperando e
já voltou a se
exercitar - com moderação (Foto: Arquivo pessoal)
exercitar - com moderação (Foto: Arquivo pessoal)
Para o cardiologista Nabil Ghorayeb, a principal recomendação é sempre
praticar atividade física, qualquer que seja, com orientação e moderação. “Tem
que ter limite nos treinos e também no descanso”, defende o médico.
Em relação à saúde mental, a psicóloga Leila Cury Tardivo explica que há
um trabalho de recuperação que pode envolver psicoterapia e até acompanhamento
de um psiquiatra. “Tem que entender o que a pessoa está buscando, qual o tipo
de perfeição que ela quer. Às vezes, o tratamento é feito inclusive com
antidepressivos”, diz.
Ainda se recuperando, Priscilla alerta que o mais importante é sempre
prestar atenção aos sinais que o corpo dá. “É fácil ignorar porque a gente
sempre quer se superar, mas o corpo fica debilitado e não pode deixar a cabeça
passar por cima disso”, aconselha. Ela diz que ainda tem dificuldade de
entender que o corpo ainda está em recuperação. “É complicado. Mas não posso
fazer o exercício físico virar uma obrigação. Se você não for um atleta, tem
que ser sempre um prazer”, conclui.
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